Mesmo depois de despencar de uma altura de mil metros, sobreviveu. Era passarinho, mas sua especialidade não era voar. Não que seu canto fosse dos mais belos, mas era com a alma que cantava e isso lhe exigia muito. Mas voltemos ao voo.
Passarinho gostava de voar em lugares que já conhecia. Era assim: ia ao local devagarinho, pisando o solo com as perninhas delicadas.Passeava, passeava. De vez em quando, ensaiava um pequeno voo. Quando sentia que o chão era fofo e sem desníveis, demorava-se um pouco mais no ar. Mas seus voos costumavam ser breves. Circulava e circulava. Passarinho não gostava de ver tudo pequenininho lá em baixo. Gostava de observar de perto as pessoas, as árvores, os cachorros, sempre desengonçados.
Passarinho também não gostava de passar muito tempo sobrevoando o mesmo lugar. Mas quando voava para estudar novos territórios, acabava voltando para saber as novas histórias dos locais que já conhecia.Passarinho gostava mesmo era de cantar. Quando cantava, lavava a alma. E se lavasse outra além da sua, emocionava-se. Depois de cantar, Passarinho gostava de abrigar-se em uma árvore-sofá e receber um cafuné. Passarinho inclinava o pescoço para frente e eriçava as penas, todo manhoso.
Certo dia, ao pisar sobre um terreno novo, Passarinho teve a impressão de que há muito já o conhecia. Ainda quis estudar mais o solo, voar baixinho, mas a brisa leve lhe convidava para voos mais altos. Não conseguiu resistir. Sentiu que ali podia cantar o quanto quisesse e não hesitou. Encheu o pulmão dos novos ares - e como lhe entravam suaves pelas narinas - e cantou e cantou. E a música que saia de seu bico ora alegrava os habitantes do lugar, ora os consolava.
Passarinho sentia-se em casa. Quanto mais alto voava, mais avistava promessas de belas paisagens. Ia mais e mais longe. O vento passava sob e sobre suas asas e Passarinho já não tinha medo de sobrevoar montanhas e mares. Ele agora sabia o que era liberdade e, a cada bater de asas, sentia-se mais seguro.
Até que, de repente, o vento mudou de direção. Passarinho perdeu a estabilidade e estatelou-se no chão. Enquanto junta seus pedaços, Passarinho pia triste. Passarinho voltou a ter medo de voar.
OBS.: Foto retirada do site : belasmensagens.zip.net
Asas da liberdade, de Allan Parker.
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