Uma felicidade violenta invadiu a minha casa. Chegou arrombando a porta, destruindo a fechadura, as trancas, os ferrolhos. Pôs abaixo, de uma só vez, tudo o que impedia a sua entrada.
Quando a vi chegar - assim altiva, furiosa - tive medo. Assustado, tentei me esconder debaixo do balcão da cozinha, atrás da pia do banheiro, no vão do armário do quarto. Não adiantou.
A Felicidade me pegou desprevenido, a ladina. Ouvia Clube da Esquina, chorava velhas mágoas. Ela não quis saber.
Ela não quis saber. Chegou como um tufão. 'Deu' na minha cara. Perguntou se doeu. Bateu mais forte. E outra vez. Mais uma. (A esta altura eu já gostava). Esfregou minha cara em seus pés e me fez lamber o chão que pisava.
Não tive como resistir. Indefeso, entreguei-me como a um carrasco. Deixei que me puxasse pelos cabelos e me arrastasse mundo afora.
Submisso.
A Felicidade me dominou de tal forma que hoje não vivo sem ela. Desejo cada instante de suas tortuosas delícias. Noite e dia almejo seu açoite.
Escravo.
Obedeço cada ordem que ela, autoritária, me impõe.