quinta-feira, 26 de novembro de 2009

A violência do Tempo


Os ponteiros insistem em rodar, desenfreados. E eu continuo me obrigando a correr contra eles. Queria apenas me deixar conduzir, como uma concha que se deixa arrastar nas areias pelas ondas do mar. Imagino o dia em que o Tempo passará por meus cabelos como uma brisa e eu o verei como um companheiro leal, que nunca falhou em passar. Queria vê-lo como uma dádiva. Algo que existe para que todos os acontecimentos não ocorram ao mesmo tempo, como aquele que me traz mais coisas boas do que ruins. Não consigo. Minha relação com o Devir permanece violenta, insana.

Quando vejo a voracidade com que ele parece querer me devorar, tenho a sensação de que se eu não correr com todas as minhas forças ele irá me abocanhar e eu ficarei como Jonas, sozinha na barriga da baleia. Será mesmo que ele já não me engoliu? De repente ele já até mastigou minha horas destinadas ao por-do-sol, meus momentos de olhar estrelas na sacada, minhas longas conversas com Deus; eu é que ainda não me dei conta...

Se for assim, a faceta voraz que vejo não passa de uma máscara ilusória. Na verdade ele me traga assim... devagarinho. Faz-me acreditar que estou correndo dele quando, na verdade, estou correndo para ele, em direção ao seu enorme abismo. No precipício do Tempo não se despenca de uma vez, não. É mais parecido com a voragem de uma areia movediça. Seria o ele uma espécie de esfinge?

- Se és assim, Tempo, então eu me recuso a te decifrar. Devora-me! Eu te provoco.

Mas ele permanece calado. Teria eu desvendado um de seus incontáveis enigmas?
Obs.: O quadro acima é de Salvador Dali. Salvo engano, se chama Explosão.

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