quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Sobre velhos amores

Há tempos venho procrastinando escrever este texto, da mesma forma como venho adiando aquele passeio de barco com o meu pai ou aquale cinema com uma amiga. É que talvez escrever este texto seja reconhecer que não tenho priorizado momentos importantes, o que é tão ou mais difícil do que mudar de postura.

Convenhamos: cultivar relacionamentos antigos não é nada fácil. Com o passar dos anos, eles vão perdendo o viço e já não exercem sobre nós o mesmo fascínio de uma novidade.

Tudo o que é novo possui sortilégios. O que não conhecemos tem uma espécie de luz que nos enche os olhos. Há um ar de mistério que pode até nos assustar, porém, instiga a nossa curiosidade e atiça nossa imaginação.

Sim!!! Devemos estar receptivos e celebrar as surpresas que a vida nos traz.

O que não podemos é fugir da responsabilidade de zelar pelo que cativamos. Assim como as nossas pupilas reduzem de tamanho em ambientes muito claros, quando algo novo nos aparece, tendemos a ficar meio cegos para aquelas pessoas e situações que antes nos pareciam tão nítidas.

No entanto, há que se ter paciência com o que é antigo, da mesma forma como tínhamos a perseverança de montar o brinquedo que mais gostávamos todas as vezes que ele quebrava. É preciso ter um "cadinho" de jogo de cintura para evitar os possíveis bocejos que uma história contada pela milésima vez pode provocar. Devemos ter perspicácia para perceber o privilégio e a beleza de receber uma bênção que só as mãos enrugadas e manchadinhas de uma avó podem nos proporcionar.

Diante do brilho do que é novo, é necessário garantir que o antigo não seja ofuscado. Ter sabedoria para deixar passar o que for efêmero e guardar com carinho o que veio para ficar. Deixar para outro dia o conserto do carro e o horário marcado no dentista e adiantar o passeio de barco e o cineminha para antes do final de semana.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Acalanto

Deixe que o tempo te leve
De leve como a brisa praiana
Semana após semana
Te conduza pelo caminho que deve

Em outros portos hás de ser passageiro
Apenas planar como um passarinho
Ou quem sabe ancorar o teu veleiro
E ali construir um ninho

Mas...

Se uma onda breve
Te trouxer de volta à minha praia

Meus lábios com gosto de frutas frescas hão de te beijar
Meus cantos serelepes hão de te celebrar
Meus braços em forma de rede hão de te abraçar

E na doçura dos meus beijos...
No acalanto dos meus (en)cantos...
E na preguiça do meu embalo...

A tradução de toda leveza
Que existe na palavra que gostas:
Beleza!